Quando pensamos em desastres naturais ou acidentes de grande escala, geralmente imaginamos equipes de resgate, ambulâncias e hospitais superlotados.
Mas, por trás de toda a operação de salvamento e atendimento médico, existe uma estrutura muitas vezes invisível: a logística hospitalar.
Esse setor é responsável por garantir que todos os recursos – desde medicamentos até leitos – estejam disponíveis no momento certo, no lugar certo.
Em situações de emergência, a logística torna-se a espinha dorsal da resposta hospitalar, sendo decisiva para salvar vidas.
A logística hospitalar abrange o planejamento, transporte e gestão de insumos, equipamentos, profissionais e informações dentro e fora dos hospitais.
Em contextos normais, já é um desafio manter todos esses elementos funcionando em harmonia. Porém, durante emergências, como terremotos, pandemias ou explosões, esses desafios se multiplicam.
Um exemplo dramático foi o terremoto no Haiti, em 2010.
Com hospitais destruídos e infraestrutura colapsada, a logística internacional foi crucial. Em poucos dias, países vizinhos e organizações humanitárias enviaram suprimentos, montaram hospitais de campanha e criaram sistemas de triagem para atender milhares de feridos.
O sistema LSS/SUMA, operado pela OPAS, foi essencial para gerenciar a distribuição de doações, evitando que materiais importantes se perdessem ou fossem mal alocados.
Um dos maiores problemas enfrentados em emergências é a escassez de suprimentos.
Na pandemia de COVID-19, por exemplo, a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) foi global, levando países a adotarem medidas emergenciais para garantir a segurança de seus profissionais de saúde.
Outro desafio crítico é o transporte. Em desastres naturais, como enchentes ou terremotos, estradas podem ficar intransitáveis, dificultando o acesso a hospitais ou a transferência de pacientes.A comunicação entre diferentes instituições também se torna complexa.
Muitas vezes, hospitais, governos e organizações humanitárias atuam simultaneamente, mas sem uma coordenação central, o que pode levar a desperdício de recursos ou falhas no atendimento.
Foi o que aconteceu, em parte, após a explosão no porto de Beirute, em 2020. Com três hospitais completamente destruídos e outros dois gravemente danificados, a cidade precisou transferir pacientes às pressas e improvisar áreas de atendimento.
A resposta internacional ajudou a estabilizar a situação, mas evidenciou a necessidade de planos de contingência mais robustos.
Felizmente, existem estratégias que ajudam a mitigar esses desafios. Uma delas é manter estoques de emergência.
Muitos hospitais adotam reservas de medicamentos e equipamentos essenciais, garantindo autonomia por alguns dias, até que novas remessas cheguem.
Outro ponto chave é a realização de simulações periódicas. Treinamentos que simulam desastres ajudam equipes a se prepararem para agir rapidamente em situações reais, como relatado por profissionais em Beirute.
A integração com órgãos como a Defesa Civil e serviços de emergência também é fundamental.
Um hospital preparado precisa estar conectado a um sistema mais amplo de resposta, com rotas de evacuação definidas e canais de comunicação eficientes.
Durante a pandemia, a China surpreendeu o mundo ao construir dois hospitais em tempo recorde em Wuhan, com capacidade para mais de dois mil leitos.
Esses hospitais foram fundamentais para conter o avanço do vírus na região. Em Nova York, o centro de convenções Javits foi transformado em hospital de campanha, e navios-hospitais foram enviados para apoiar a rede de saúde.
As crises recentes nos mostram que, embora não seja possível evitar todos os desastres, podemos nos preparar melhor para enfrentá-los.
Investir em infraestrutura hospitalar resiliente, treinar equipes, fortalecer a produção local de insumos e promover uma cultura de prevenção são passos fundamentais.
A logística hospitalar pode parecer um trabalho nos bastidores, mas seu impacto é visível na linha de frente. É ela que garante que médicos tenham os instrumentos certos, que pacientes recebam atendimento no tempo certo e que a esperança se mantenha viva mesmo nos cenários mais difíceis.
POSTADO PELA PROFª ME. GISELE ESTEVES PRADO
REFERÊNCIAS
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. O setor de saúde diante
dos desastres: guia para a redução da vulnerabilidade em estabelecimentos de
saúde. Washington, D.C.: OPAS, 2000
UNICEF. Lebanon: one year after the Beirut explosions. New
York: UNICEF, 2021.
WORLD BANK. The Haiti earthquake response: lessons for
donors in fragile states. Washington, D.C.: World Bank, 2010.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. COVID-19 supply chain system:
request for proposals. Geneva: WHO, 2020.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health response to the Beirut port explosion: a case study. Geneva: WHO, 2021.
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