Entre Portos e Papéis: Desvendando a Conferência de Documentos na Importação e Exportação

A conferência da documentação é uma etapa fundamental no processo de importação ou exportação, pois garante que todas as etapas legais, contratuais e operacionais sejam concluídas.

Alguns documentos são comuns a todos os tipos de modais utilizados nos transportes, já outros são específicos para determinado modal. Em relação ao modal marítimo, apenas o Conhecimento de Embarque ou “Bill of Lading” é exclusivo desse meio de transporte, porém, outros documentos também são essenciais, são eles:

Conhecimento de embarque (Bill of Lading – B/L): documento emitido pela transportadora, que comprova o recebimento da carga e as condições do transporte.

Fatura comercial (Commercial Invoice): descreve a mercadoria, valores e condições de venda.

Packing list: lista detalhada da carga (embalagem, volumes, pesos).

Certificado de origem: usado em acordos comerciais para redução de tarifas.

Declaração de exportação ou importação (DU-E/DUIMP): documento eletrônico da Receita Federal que formaliza a operação.

Autorização de embarque ou desembarque, conforme exigências específicas (ex: Anvisa, MAPA, Ibama).

Esses documentos são verificados tanto pelo agente de cargas quanto por autoridades alfandegárias, armadores e terminais portuários.

A conferência desses documentos ocorre em três etapas, Aduaneira, Comercial e Operacional.

A conferência documental Aduaneira é realizada pela Receita Federal do Brasil por meio do SISCOMEX. Nessa fase, é verificado se as informações da DU-E ou DUIMP correspondem aos demais documentos e pode envolver parametrização, dividida em canais (verde, amarelo, vermelho ou cinza, que determinam o grau de fiscalização. No canal verde, não é necessário mais nenhuma verificação adicional, o que permite a liberação da carga, no canal amarelo é feita a revisão da documentação, mas não é preciso fazer a verificação física, no canal vermelho a revisão é feita tanto na documentação quanto na carga, já no canal cinza é feita uma fiscalização mais rigorosa para verificar possíveis irregularidades graves.

A conferência comercial é realizada pelos despachantes aduaneiros, agentes de carga e operadores logísticos e é a etapa onde são confirmados os dados comerciais, como quantidades, valores, destino, navio, entre outras.

Na conferência operacional, os terminais e armadores alinham os dados com a movimentação da carga para garantir que ela será colocada no navio correto, com lacres e documentos certos.

Para que seja possível transportar cargas através de modais rodoviários, primeiro o responsável do veículo necessita estar com a documentação atualizada e com as informações corretas e recentes. Além disso os documentos são essenciais para a transportadora, pois garantem a segurança da carga.

Dessa maneira, são necessários cerca de 12 tipos de documentos diferentes, como:

Nota Fiscal Eletrônica (NF-e)

A NF-e registra as vendas de mercadorias e serviços das empresas. Ela é armazenada digitalmente e emitida, além disso é necessário que tenha a validade jurídica e a assinatura digital do emitente. A nota fiscal deve conter informações sobre a carga, dados do vendedor, do cliente, dos produtos, impostos, entre outras.

Documento auxiliar de nota fiscal eletrônica (DANFE)

O DANFE é um documento que representa fisicamente a NF-e e comprove a entrega da mercadoria para o cliente. Além disso, é necessário que ele esteja acompanhado a carga, facilitando na busca das informações da mercadoria transportada.

Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e)

CT-e documenta os trabalhos prestados na área de transportes de mercadorias. Igual como a NF-e, ele é armazenado digitalmente, tem validade jurídica e assinatura digital do emissor da carga.

Manifesto Eletrônico de Documentos Fiscais (MDF-e)

O MDF-e precisa ser emitido pelas transportadoras para que haja a garantia de mais agilidade nos registros em lote de documentos fiscais, como o CT-e. Sendo dessa maneira um documento eletrônico que vincula os documentos fiscais.

Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Cargas (RCTR-c)

Um documento que diz que a transportadora se torna responsável a qualquer dano causado por terceiros no transporte rodoviário de cargas. Dessa maneira, caso algum acidente ocorra, o transportador deverá ser indenizado.

Documento Auxiliar do Conhecimento de Transporte Eletrônico (DACTE)

O DACTE também é uma representação gráfica ou versão impressa do CT-e, assim como a DANFE em relação a NF-e, ele serve para facilitar o acesso das informações que estão localizadas no documento eletrônico e comprovar a existência do CT-e.

Documento Auxiliar do Manifesto Eletrônico de Documentos Fiscais (DAMDFE)

Serve como comprovante da existência do MDF-e e facilita o acesso às informações contidas no documento eletrônico. Tem como o objetivo de auxiliar a fiscalização aduaneira.

Código Identificador da Operação de Transporte (CIOT)

O CIOT é um código fornecido pelo sistema eletrônico da Agência Nacional de Transportes Terrestres, ele é dado quando é feito um cadastro para a realização de um serviço de transporte de cargas.

Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV)

Trata-se do registro obrigatório do veículo do proprietário. Comprovando que todas as obrigações legais relacionadas ao veículo estão atualizadas, oferecendo assim a autorização para transporte de carga.

Vale-pedágio obrigatório (VPO)

O VPO faz com que a empresa, transportadora ou embarcador seja responsável pelo pagamento da taxa do pedagio.

Protocolo de averbação de seguro de cargas

Este documento garante o ressarcimento da transportadora, caso ocorra algum prejuízo durante a viagem.

Romaneio

O romaneio funciona como um checklist utilizado pela transportadora para verificar os produtos no momento do embarque e do desembarque, facilitando o trabalho dos transportadores.

No modal ferroviário é essencial a conferência de documentos que garantem a legalidade, segurança e eficiência no transporte de cargas, assegurando assim, que as informações fiscais, logísticas e operacionais estejam correntes e de acordo com a legislação. Sendo assim, no transporte ferroviário de cargas é obrigatório a emissão de alguns documentos como:

Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e): Documento fiscal que formaliza a prestação do serviço de transporte de cargas. O CT-e substitui diversos documentos em papel, como o Conhecimento de Transporte Ferroviário de Cargas e a Nota Fiscal de Serviço de Transporte Ferroviário de Cargas.

Manifesto Eletrônico de Documentos Fiscais (MDF-e): Documento que consolida informações de múltiplos CT-es em uma única viagem. A emissão do MDF-e é obrigatória para empresas que realizam transporte ferroviário de cargas.

Documento Auxiliar do CT-e (DACTE) e Documento Auxiliar do MDF-e (DAMDFE): Versões impressas dos respectivos documentos eletrônicos, que acompanham a carga durante o transporte e facilitam a fiscalização. Tais documentos são emitidos e armazenados de forma eletrônica, facilitando a fiscalização e o controle geral. A conferência documental no modal envolve diversos procedimentos, incluindo a checagem entre os dados dos documentos e carga física transportada juntamente com a confirmação da validação fiscal por meio de sistemas eletrônicos, como o portal da Receita Federal.

O modal ferroviário apresenta algumas particularidades que influenciam a conferência documental, entre elas:

  • Volume e Peso das Cargas;
  • Integração Multimodal;
  • Infraestrutura Específica.

É necessária uma conferência documental adequada para evitar penalidades, como multas, retenção de cargas e sanções legais. A documentação correta facilita o processo logístico, reduzindo atrasos e custos adicionais.

No transporte aéreo o AWB é o principal documento, ele funciona como um contrato entre a companhia aérea e o remetente, contendo detalhes sobre a carga, rota e condições de transporte. Ele contém informações importantes sobre a remessa, como a descrição da carga, o remetente, o destinatário, o aeroporto de origem e destino, entre outros detalhes.

Existem três tipos de AWB:

  • AWB
  • MAWB (Master Air Waybill)
  • HAWB (House Air Waybill)

O AWB é o conhecimento aéreo internacional que cobre uma determinada carga embarcada individualmente na aeronave, sendo emitido diretamente pela companhia aérea.

O MAWB (Master Air Waybill) é o conhecimento de embarque emitido pela companhia aérea para cargas consolidadas e/ou diretas. O MAWB representa o total de carga que foi recebida e/ou enviada pelo agente e entregue à companhia aérea para seguir com o embarque.

O HAWB (House Air Waybill) é emitido pelo agente de cargas, referente a uma carga que foi consolidada ou não. Geralmente existem vários houses para um único master. Contudo, devido a negociação do frete ter sido feita com o agente de cargas, não é raro que uma única carga possua MAWB e HAWB.

Erros Comuns na Conferência de Documentos:

Dados Divergentes Entre Documentos

Exemplo: O peso ou quantidade da carga no Invoice não bate com o que está no BL, AWB, CTe ou Nota Fiscal.

Causa: Falha de comunicação entre exportador, despachante e transportadora.

Falta de Assinaturas ou Endossos

Exemplo: BL sem endosso correto, impedindo a liberação da carga no porto.

Causa: Desatenção ou desconhecimento das regras do título de crédito.

Erros em Informações Aduaneiras

Exemplo: Código NCM incorreto ou descrição incompleta na Declaração de Importação.

Causa: Copiar informações de embarques passados sem atualizar para o caso atual.

Documentos Incompletos

Exemplo: Falta de certificado fitossanitário ou certificado de origem exigido pelo país de destino.

Causa: Não checar a lista completa de documentos exigidos pelo destino.

Prazo de Vencimento Expirado

Exemplo: Certificados vencidos ou BL com prazo expirado para apresentação.

Causa: Demora na tramitação documental ou no embarque.

Falhas na Descrição da Mercadoria

Exemplo: Descrição genérica como “produtos diversos” quando a Receita Federal exige detalhamento.

Causa: Pressa ou falta de conhecimento técnico.

Erro Fiscal

Exemplo: Nota Fiscal com CFOP incorreto ou sem destaque correto de impostos.

Causa: Falta de atenção do emissor da NF.

Como pode-se evitar esses erros?

Checklist Padrão

Sempre utilize uma lista de conferência adaptada ao modal e ao tipo de carga. Confirme campos como quantidade, peso, NCM, origem/destino, descrição e valores.

Treinamento da Equipe

Capacitar quem faz a conferência para entender não só o que conferir, mas por que cada campo importa.

Comunicação Clara

Manter alinhamento entre vendedor, comprador, despachante, transportadora e agente de carga. Evite “assumir” que o outro lado preencheu certo, sempre valide.

Uso de Sistemas Integrados

Sistemas de gestão (TMS, WMS, ERP) ajudam a automatizar a checagem de campos e evitar divergências.

Antecedência

Sempre organize a documentação com margem de tempo para corrigir erros antes do embarque ou desembaraço.

Revisão Dupla

Sempre que possível, tenha uma segunda pessoa revisando documentos críticos como BL, AWB e Declaração Aduaneira.

As empresas Schenker e NowPorts Brasil são agentes de carga que atuam principalmente nas operações de comércio exterior através dos multimodais de transporte. As organizações prestam o serviço de transporte internacional de mercadorias e suas devidas documentações. De origem alemã e mexicana respectivamente, elas atuam em escala global sendo a NowPorts uma startup mais desenvolvida em serviços digitais.
Como agentes de carga, as duas empresas são líderes em seus segmentos de mercado, onde desenvolvem a melhor forma de entregar a mercadoria até o destino. Uma das etapas mais importantes é a verificação da documentação, entre os principais que são o Bill of Landing (BL), Comprovante de Importação (CI), Declaração de Importação (DI), Commercial Invoice (CI) e o Packing List (PL).

O BL confirma o recebimento da carga e estabelece as condições de transporte, já o CI como o próprio nome diz, comprova a importação da carga, a DI serve como base para o despache aduaneiro de importação, o CI detalha a transação comercial com as informações necessárias para os órgãos competentes e o PL lista os itens que estão envolvidos na operação comercial, como características, pesagem e quantidade. Todos os documentos citados são necessários para o transporte internacional de mercadorias de forma adequada, dentro da legislação brasileira, onde devem ser registrados no Siscomex – plataforma do governo federal brasileiro destinado ao comércio internacional.


Tanto a Schenker, quanto a NowPorts em suas plataformas exibem para os usuários (sendo muitos deles possíveis clientes) “campus” de preenchimentos de dados, como informações pessoais e da organização, frequência no transporte de cargas, segmento e a localização das operações comerciais. Tendo acesso as informações necessárias os agentes iniciam as devidas tratativas para regularizar o processo comercial, sendo importante frisar que a responsabilidade legal pela documentação das transações continua a ser do importador/exportador.

Portanto, a exemplo das duas empresas especialistas em agenciamento de cargas citadas, o papel delas é importante para orientar e executar os processos aduaneiros, principalmente para organizações que estão executando as primeiras movimentações internacionais.

POSTADO PELO GRUPO CANADÁ



REFERÊNCIAS:

BRASIL. Apex-Brasil. Manual do Exportador. Disponível em: https://www.apexbrasil.com.br. Acesso em: 1 maio 2025.

BRASIL. Receita Federal do Brasil. Manual de Orientação do Contribuinte do MDF-e – Anexo II: Documento Auxiliar do MDF-e (DAMDFE). Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/portais-relacionados/sped/migracao/mdf-e/downloads/manuais/manual-de-orientacao-do-contribuinte-moc-damdfe/moc_mdfe_anexo-ii_damdfe_v3-00a.pdf. Acesso em: 1 maio 2025.

CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL (ICC). Incoterms® 2020. Disponível em: https://iccwbo.org/resources-for-business/incoterms-rules/incoterms-2020/. Acesso em: 1 maio 2025.

DB Schenker. Casos Reais e Soluções Logísticas. Disponível em: https://www.dbschenker.com/br-pt. Acesso em: 1 maio 2025.

NowPorts Brasil. Blog e Materiais Técnicos. Disponível em: https://blog.nowports.com/. Acesso em: 1 maio 2025.

Receita Federal do Brasil. Etapas do Despacho Aduaneiro de Importação. Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/despacho-de-importacao/topicos-1/despacho-de-importacao/etapas-do-despacho-aduaneiro-de-importacao. Acesso em: 02 maio 2025.

Receita Federal do Brasil. Parametrização. Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/despacho-de-importacao/topicos-1/despacho-de-importacao/etapas-do-despacho-aduaneiro-de-importacao/parametricao. Acesso em: 02 maio 2025.

Receita Federal do Brsil. Modal Marítimo. Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/manuais/despacho-de-importacao/topicos-1/procedimentos-preliminares/presenca-de-carga/modal-maritimo. Acesso em: 02 maio 2025.

SEBRAE. 5 erros que você não pode cometer no processo de importação. Comunidade SEBRAE, 10 Mar. 2022. Disponível em: https://sebraepr.com.br/comunidade/artigo/processo-de-importacao-5-erros-que-voce-nao-pode-cometer. Acesso em: 1 Mai. 2025.

TOTVS. Documentos de Transporte de Cargas: os 12 principais e as suas particularidades. 2024. Disponível em: https://www.totvs.com/blog/gestao-logistica/documentos-de-transporte-de-cargas/. Acesso em: 2 de mai. 2025

Wilsonsons. 8 dicas para evitar problemas no despacho aduaneiro. Wilson sons, 2 Mar. 2021. Disponível em: https://www.wilsonsons.com.br/pt-br/blog/despacho-aduaneiro-problemas/#:~:text=7.,qu%C3%ADmicos%20componentes%20de%20explosivos%20etc. Acesso em: 1 Mai. 2025.

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